No dia 28 de abril de 2025, Thais Carla dançarina, conhecida por suas coreografias marcantes e energia contagiante, ativista do movimento contra gordofobia e autora da autobiografia “Gorda, Livre e Poderosa”, passou por uma cirurgia bariátrica no Hospital Aliança em Salvador (BA), para perder peso. Essa decisão gerou uma enorme repercussão na internet, dividindo opinões: contradição ou autocuidado?
Quem é Thais Carla?
Thais Carla é dançarina, coreógrafa, influenciadora e ativista brasileira, conhecida por quebrar padrões e levantar a bandeira contra a gordofobia. Nascida em Nova Iguaçu (RJ), ela se apaixonou pela dança ainda na infância e, desde então, construiu uma carreira que mistura arte, representatividade e luta social.
Ficou nacionalmente conhecida ao vencer o quadro “Se Vira nos 30”, no Domingão do Faustão, e, mais tarde, por integrar o balé de grandes artistas como Anitta.
Além de artista, ela também é empresária, criadora de conteúdo e uma voz ativa nas redes sociais. Em 2021, protagonizou um marco importante ao vencer na Justiça um processo por gordofobia, tornando-se símbolo de resistência.
A Vitória de Thais Carla Contra a Gordofobia na Justiça
Em 2021, Thais Carla decidiu dar um basta na gordofobia que, infelizmente, muitos ainda tentam disfarçar de humor. Na época, o humorista Léo Lins publicou um vídeo no YouTube onde, além de zombar do corpo da dançarina e das dificuldades que enfrenta para viajar de avião, também expôs seus dados pessoais.
Diante desse ataque, Thais não se calou. Pelo contrário, ela rapidamente buscou seus direitos e levou o caso à Justiça. Afinal, ela sabia que aquilo não era só uma brincadeira de mau gosto. Era, na verdade, uma forma clara de humilhação pública e opressão.
Pouco tempo depois, a decisão veio. A 8ª Vara do Juizado Especial de Salvador reconheceu que o humorista cometeu, sim, um ato de discriminação. Como consequência, a Justiça determinou que ele pagasse uma indenização por danos morais.
Portanto, essa vitória não foi apenas pessoal. Na realidade, ela representou um avanço enorme para toda a luta contra a gordofobia no Brasil. Thais deixou um recado poderoso: ninguém precisa aceitar ofensas, nem viver calado diante do preconceito.
Além disso, esse caso trouxe ainda mais visibilidade para uma verdade incômoda: a sociedade insiste em normalizar o preconceito contra corpos fora do padrão. Contudo, Thais mostrou, com muita coragem, que buscar justiça é possível, necessário e transformador.
De onde veio a motivação?
Embora a cirurgia tenha acontecido apenas em abril deste ano, desde novembro de 2024, Thais decidiu adotar um novo estilo de vida, focando em sua saúde física e mental. Antes da cirurgia, Thais já havia perdido 30kg com reeducação alimentar e exercício físico.
A ativista conta que, uma das principais motivações para iniciar a transformação foi o desejo de ter mais energia para brincar com suas filhas, Maria Clara e Eva, além de voltar a dançar. Em entrevista para a revista Caras, Thais Carla afirmou:
“Eu tomei a decisão de fazer a cirurgia porque estou vivendo uma nova fase da minha vida. Eu já mostrei que um corpo fora dos padrões pode ocupar todos os espaços: dancei, desfilei, fui amada, construí uma família linda, realizei meus sonhos e ajudei a recuperar a autoestima de milhares de mulheres”, disse ela.
E completou: “Fui a primeira pessoa no país a vencer um processo por gordofobia e abri muitas portas para outras pessoas gordas acreditarem que também podem. Tudo isso sendo quem eu era, do jeito que eu era. E agora, escolhi me permitir viver novas possibilidades — com a mesma coragem, com o mesmo amor próprio, com o mesmo propósito. Essa nova fase é uma continuação da minha história, não uma negação dela. Eu sigo sendo exemplo, sigo sendo resistência, sigo sendo eu“.
Contradição ou Autocuidado?
A sociedade adora encaixar as pessoas em caixinhas, logo, quando alguém luta contra a gordofobia, muitos esperam que essa pessoa permaneça gorda para sempre, como se o ativismo fosse uma prisão e não uma bandeira pela liberdade. Então, aqui vai uma verdade simples — embora ainda difícil para muitos aceitarem: aceitar corpos diversos não significa romantizar a obesidade. Do mesmo jeito, cuidar da própria saúde — seja com dieta, exercícios ou cirurgia — não apaga nem invalida uma trajetória inteira de militância.
Thais Carla nunca disse que pessoas gordas não podem querer mudar. Desde sempre, ela combate a opressão, o preconceito e a desumanização dos corpos que fogem do padrão magro. E, sejamos sinceros, esse combate continua mais necessário do que nunca.
Muita gente simplesmente não enxerga — ou escolhe não enxergar — que militar pela aceitação não significa incentivar um estado permanente. Na verdade, essa luta defende que todas as pessoas sejam respeitadas, estejam no corpo que estiverem, pelas razões que forem. E, mais que isso, garante que decisões como fazer ou não uma bariátrica aconteçam sem culpa, sem vergonha e, principalmente, sem pressão social.
Quando decidiu pela cirurgia, Thais não recuou — ela avançou. Assumiu, mais uma vez, as rédeas da própria vida, do próprio corpo e fez o que considera melhor para si. E só isso já representa um ato político gigante em uma sociedade que insiste em querer controlar os corpos dos outros.
Portanto, não existe contradição aqui. Existe coragem. Existe maturidade. E existe, acima de tudo, a reafirmação de que ativismo não é sobre permanecer em um corpo específico, e sim sobre garantir que qualquer pessoa, em qualquer corpo, receba dignidade, respeito e empatia.
Leve essa reflexão com você. No fim das contas, só uma coisa importa: que as escolhas sobre nossos corpos sejam, única e exclusivamente, nossas.
