Cirurgia Bariátrica: Um Caminho para uma Vida Mais Saudável
A obesidade é, sem dúvida, um problema de saúde que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Além disso, ela pode levar a diversas doenças, como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos. Por essa razão, quando métodos tradicionais — como dieta balanceada e prática regular de exercícios — não são suficientes para controlar o peso, a cirurgia bariátrica passa a ser considerada uma opção eficaz. Afinal, esse tipo de procedimento tem se mostrado uma ferramenta poderosa para a perda de peso e o controle de doenças relacionadas à obesidade. Neste contexto, é importante entender melhor o que é a cirurgia bariátrica, quem pode realizá-la, quais são os tipos disponíveis, quais cuidados são necessários antes e depois do procedimento, bem como os possíveis efeitos colaterais que podem surgir. Dessa forma, é possível tomar decisões mais informadas e conscientes sobre o tratamento da obesidade.
O que é Cirurgia Bariátrica?
A cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia de redução do estômago, é um procedimento médico que ajuda pessoas com obesidade grave a perder peso. Ela funciona reduzindo o tamanho do estômago ou alterando o caminho que o alimento percorre no sistema digestivo, o que leva a uma ingestão menor de alimentos e à absorção reduzida de calorias.
Quem Pode Fazer a Cirurgia Bariátrica?
Nem todos podem realizar a cirurgia bariátrica. Os médicos avaliam vários critérios para determinar se uma pessoa é candidata ao procedimento:
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Índice de Massa Corporal (IMC): Pessoas com IMC igual ou superior a 40 kg/m², ou entre 35 e 39,9 kg/m² com doenças associadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão ou apneia do sono, podem ser consideradas para a cirurgia .
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Tentativas Anteriores de Emagrecimento: É necessário que o paciente tenha tentado perder peso por meio de dieta, exercícios e, possivelmente, medicamentos, sem sucesso duradouro.
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Idade: Geralmente, a cirurgia é indicada para pessoas entre 18 e 65 anos. Em casos especiais, adolescentes entre 16 e 18 anos podem ser considerados, desde que haja consentimento dos responsáveis e avaliação médica criteriosa .
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Avaliação Psicológica: O paciente deve estar mentalmente preparado para as mudanças de estilo de vida que a cirurgia exige.
Quem Não Deve Fazer a Cirurgia Bariátrica?
Embora a cirurgia bariátrica traga muitos benefícios, nem todas as pessoas estão aptas a passar por esse procedimento. Isso porque a operação é complexa e exige mudanças profundas no estilo de vida. Assim, médicos precisam avaliar com muito cuidado se o paciente está fisicamente e emocionalmente preparado. Vamos entender melhor quais condições impedem essa cirurgia e os motivos.
1. Distúrbios Alimentares Não Controlados
Pessoas com distúrbios alimentares graves e não tratados, como:
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Bulimia nervosa (episódios de compulsão seguidos por vômitos provocados ou uso exagerado de laxantes),
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Anorexia nervosa (recusa em manter o peso corporal saudável),
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Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) (comer em excesso frequentemente, mesmo sem fome),
não devem realizar a cirurgia até que o transtorno esteja controlado com acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
Esses transtornos dificultam a adaptação às novas rotinas alimentares exigidas após a cirurgia e aumentam o risco de complicações físicas e emocionais graves, como desnutrição, depressão e até ruptura do estômago operado.
2. Problemas Psiquiátricos Graves Não Tratados
A cirurgia bariátrica exige estabilidade emocional. Pacientes com os seguintes quadros não tratados ou mal controlados geralmente não são autorizados a operar:
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Depressão maior com risco de suicídio;
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Transtorno bipolar descompensado;
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Esquizofrenia ou transtornos psicóticos;
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Transtornos de personalidade graves (como o borderline, quando descontrolado);
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Transtornos de ansiedade severos, com crises de pânico descontroladas;
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Transtornos cognitivos ou demências.
Por quê?
Esses pacientes podem ter dificuldade em:
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Seguir o plano alimentar e os medicamentos pós-cirurgia;
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Comparecer às consultas médicas regularmente;
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Reconhecer os sinais de alerta de complicações;
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Manter o autocuidado e a motivação para mudar o estilo de vida.
Além disso, o período após a cirurgia é emocionalmente desafiador. Há risco de frustração, arrependimento e piora de quadros depressivos se o acompanhamento não for rigoroso.
3. Uso Abusivo de Substâncias (Álcool e Drogas)
Pessoas que fazem uso abusivo ou dependente de álcool, cigarro ou drogas ilícitas (como cocaína, crack, maconha, opioides e anfetaminas) não devem passar pela cirurgia bariátrica até que estejam em tratamento ativo e comprovadamente abstinentes.
Por que isso impede a cirurgia?
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Álcool: após a cirurgia, o álcool é absorvido mais rapidamente e tem efeito mais intenso, o que aumenta o risco de intoxicação e dependência. Além disso, o fígado fica mais sensível, e o álcool pode causar lesões graves.
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Drogas ilícitas: afetam o cérebro, dificultando a adesão ao tratamento. Podem também interferir nos medicamentos e aumentar os riscos anestésicos.
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Cigarro: aumenta muito o risco de complicações, como trombose, infecção, má cicatrização e problemas respiratórios. Fumar reduz a oxigenação dos tecidos e atrapalha a recuperação.
Para esses pacientes, é essencial iniciar um programa de cessação do vício com apoio de psicólogos, psiquiatras e médicos especializados antes de pensar em operar.
4. Doenças Cardíacas Graves
Algumas doenças cardíacas aumentam demais o risco de morte durante ou após a cirurgia:
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Insuficiência cardíaca congestiva grave;
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Arritmias cardíacas não controladas (como fibrilação atrial);
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Doença coronariana instável ou infarto recente;
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Cardiomiopatia dilatada com fração de ejeção muito baixa (coração muito fraco).
Por que isso é perigoso?
Durante a cirurgia, o coração é, de fato, muito exigido. Isso porque o estresse físico, a anestesia e a mudança no volume de sangue podem, em conjunto, sobrecarregar um coração já comprometido. Como resultado, podem ocorrer paradas cardíacas ou até complicações fatais. No entanto, em alguns casos, a cirurgia ainda é possível, desde que a doença cardíaca seja previamente controlada com acompanhamento rigoroso de um cardiologista especializado. Assim, os riscos são reduzidos e o procedimento se torna mais seguro.
5. Doenças Pulmonares Graves
Entre as doenças pulmonares que podem impedir a cirurgia estão:
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Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) severa;
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Asma grave não controlada;
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Fibrose pulmonar avançada;
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Apneia do sono grave sem tratamento.
Por que isso impede a cirurgia?
Durante a cirurgia, o paciente é submetido à anestesia geral e precisa de ventilação mecânica. Doenças pulmonares aumentam o risco de:
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Falência respiratória;
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Infecções pós-operatórias (como pneumonia);
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Necessidade prolongada de internação em UTI.
O ideal é que o paciente trate bem a doença pulmonar antes da cirurgia e esteja estável, com exames respiratórios atualizados e acompanhamento do pneumologista.
6. Incapacidade de Aderir ao Tratamento
A cirurgia bariátrica exige uma mudança radical no estilo de vida. Isso inclui:
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Seguir dietas restritas por meses;
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Tomar suplementos por toda a vida;
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Fazer atividade física regularmente;
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Participar de consultas médicas frequentes.
Pessoas que demonstram desinteresse, resistência ou dificuldade cognitiva para entender as orientações podem não conseguir seguir o plano corretamente. Isso aumenta os riscos de complicações, má nutrição, reganho de peso e frustrações com o resultado.
Tipos de Cirurgia Bariátrica
Existem diferentes técnicas de cirurgia bariátrica. A escolha depende das necessidades e condições de saúde de cada paciente:
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Bypass Gástrico: É a técnica mais comum no Brasil. Cria-se uma pequena bolsa no estômago e parte do intestino é desviada. Isso reduz a quantidade de alimento ingerido e a absorção de calorias .
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Gastrectomia Vertical (Sleeve): Remove-se cerca de 80% do estômago, deixando-o em forma de tubo. Isso limita a ingestão de alimentos e reduz a produção de hormônios que estimulam o apetite.
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Duodenal Switch: Combina a remoção de parte do estômago com um desvio mais extenso do intestino. É eficaz para perda de peso significativa, mas tem maior risco de deficiências nutricionais.
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Banda Gástrica Ajustável: Coloca-se um anel ao redor da parte superior do estômago para criar uma pequena bolsa. É menos invasiva, mas menos eficaz a longo prazo .
Preparação para a Cirurgia Bariátrica (Pré-Operatório)
Antes da cirurgia, o paciente passa por uma avaliação completa:
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Equipe Multidisciplinar: Inclui médicos, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais de saúde.
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Exames Médicos: Como endoscopia, exames de sangue, avaliação cardíaca e pulmonar.
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Mudanças no Estilo de Vida: O paciente deve começar a adotar hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e prática de exercícios.
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Parar de Fumar e Evitar Álcool: Fumar e consumir álcool aumentam os riscos cirúrgicos e devem ser evitados .
Cuidados Após a Cirurgia Bariátrica (Pós-Operatório)
Após a cirurgia, é essencial seguir as orientações médicas para garantir o sucesso do procedimento:
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Dieta Progressiva: Começa-se com líquidos, passando para alimentos pastosos e, gradualmente, alimentos sólidos.
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Suplementação de Vitaminas e Minerais: Devido à menor absorção de nutrientes, pode ser necessário tomar suplementos.
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Acompanhamento Médico Regular: Consultas frequentes para monitorar a perda de peso e a saúde geral.
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Atividade Física: Incorporar exercícios na rotina ajuda a manter a perda de peso e melhora a saúde.
Resultados Esperados
A cirurgia bariátrica pode, portanto, levar a uma perda significativa de peso. Em média, os pacientes perdem cerca de 70% do excesso de peso já nos primeiros dois anos após a cirurgia. Além disso, muitas comorbidades associadas à obesidade, como diabetes tipo 2 e hipertensão, frequentemente melhoram ou até desaparecem. Com isso, a saúde geral do paciente tende a apresentar avanços importantes.
Possíveis Efeitos Colaterais e Complicações
Como qualquer cirurgia, a bariátrica pode ter efeitos colaterais:
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Síndrome de Dumping: Ocasiona náuseas, diarreia e tontura após comer alimentos ricos em açúcar .
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Deficiências Nutricionais: Devido à menor absorção de nutrientes, podem ocorrer deficiências de vitaminas e minerais.
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Problemas Gastrointestinais: Como refluxo, obstruções ou úlceras.
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Necessidade de Cirurgias Adicionais: Em alguns casos, pode ser necessário realizar procedimentos adicionais para corrigir complicações ou remover excesso de pele.
Comparando: Ozempic x Bariátrica
Aspecto | Ozempic | Cirurgia Bariátrica |
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Indicação principal | Diabetes tipo 2 e obesidade com comorbidades | Obesidade grave ou moderada com doenças associadas |
Forma de uso | Injeção semanal | Cirurgia única, com internação hospitalar |
Reversibilidade | Sim – o uso pode ser interrompido | Não – procedimento é permanente |
Velocidade da perda de peso | Lenta e gradual | Rápida nos primeiros 6 a 12 meses |
Média de perda de peso | 10% a 15% do peso corporal em 68 semanas | 30% a 40% do peso corporal em até 2 anos |
Riscos | Náuseas, vômitos, constipação, pancreatite | Complicações cirúrgicas, deficiências nutricionais |
Custo | Alto a longo prazo (uso contínuo) | Alto no início, mas pode ser coberto pelo SUS ou planos |
Necessidade de acompanhamento | Sim – médico e nutricionista | Sim – equipe multidisciplinar por toda a vida |
Qual Escolher?
Não existe uma resposta única. A escolha depende de vários fatores:
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Grau da obesidade;
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Doenças associadas (como diabetes, pressão alta, apneia do sono);
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Resposta a tratamentos anteriores;
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Condições clínicas e psicológicas;
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Preferência pessoal e capacidade de seguir o tratamento.
Ozempic pode ser útil para quem ainda não chegou ao ponto de precisar de uma cirurgia. Já a bariátrica é indicada quando o quadro é mais grave ou o paciente não teve sucesso com remédios e mudanças no estilo de vida.
Conclusão
Antes de aprovar a cirurgia bariátrica, os médicos realizam uma análise profunda de todo o quadro clínico, emocional e social do paciente. Primeiramente, o objetivo dessa avaliação detalhada não é excluir, mas sim proteger o paciente de riscos maiores que poderiam surgir durante ou após o procedimento. Além disso, é importante destacar que, em muitos casos, com o tratamento adequado das condições que inicialmente impedem a cirurgia, o paciente pode, sim, se tornar apto ao procedimento no futuro. Ou seja, mesmo que a resposta seja “ainda não”, isso não significa um “nunca”. Por isso, é essencial manter o foco no cuidado contínuo e no acompanhamento com a equipe médica. Embora a jornada possa ser longa, o cuidado certo, no momento certo, pode salvar vidas e transformar histórias de forma profunda e duradoura.